quinta-feira, 29 de novembro de 2012

O que significa a Abordagem Psicossomática na Psicologia?


           Atualmente é muito comum a descrição de doenças e seus tratamentos observando basicamente seus reflexos no corpo, regidos pela fisiologia e apoiados na genética e na sintomatologia clínica como descreve o DSM-IV. Acompanhando esta tendência a psiquiatria em seu viés mais organicista e fundamentado na causa e efeito observa nos pacientes com transtornos de humor as distorções nos níveis de neurotransmissores e corrigem o problema com o uso de medicamentos que estimulam ou inibem o sistema nervoso central.
            Dentro desta mesma visão em que vigora a delimitação de campo de atuação das especialidades médicas, a psicologia também tenta abordar somente sintomas e doenças emocionais nas quais a etiologia estaria restrita a conflitivas psíquicas tão bem explicadas pela metapsicologia freudiana ou ainda pela abordagem comportamental e/ou cognitiva.
            O ser humano assim dividido deveria buscar o tratamento médico para as doenças e o tratamento psicológico para suas desordens comportamentais ou emocionais, sendo os primeiros atribuídos fundamentalmente aos sintomas apresentados e os últimos buscados em conflitos psicológicos internos com gênese infantil ou em distúrbios comportamentais a serem extintos ou modificados.
No meio do caminho estariam questões fundamentalmente comportamentais e de caráter como as drogadicções, transtornos alimentares como a Anorexia, Bulimia e até a obesidade mórbida e ainda as novas compulsões como o workaholic, o vício em internet entre outros. Estes todos dependeriam de um tratamento conjunto tanto para a parte física, quanto para a parte emocional. Este é o tratamento multidisciplinar ou interdisciplinar dependendo da forma em que os profissionais interagem.
            Durante anos, as pessoas se trataram como descrito acima, dando origem ao sistema de saúde como é visto hoje regido pelo tratamento médico e com encaminhamentos para tratamento psicoterapêutico quando necessário.
Este modelo começou a complicar quando a própria medicina, por especialidades,  reconhece que o sistema imunológico, as emoções e o sistema neurológico possuem interdependências, dando origem a uma nova especialidade médica que é a Psiconeuroimumologia.
            Mas antes de passarmos a tratar de como a psicologia também passou a integrar o psíquico ao somático, precisamos discutir brevemente alguns princípios básicos desta conjunção. 
            Basta ressaltar que os estados emocionais interferem muito no funcionamento físico e vice-versa e que uma relação entre eles precisa existir, visto que, é o homem imerso em suas emoções e relações sociais, que adoece.
            Para ilustrar esta interdependência poderíamos citar doenças como a úlcera nervosa, a enxaqueca, a hipertensão e a maioria das doenças de pele que, classicamente são descritas como possuindo um fundo psicológico associadas a seu reflexo no corpo, e nas quais o simples tratamento sintomático não traz resultados satisfatórios, devendo vir acompanhado de intervenções psicológicas.
            É neste campo de relacionamento entre o funcionamento plenamente corporal e fisiológico e sua relação com as emoções que surge a psicossomática.
            A psicossomática pode ser vista basicamente de duas formas, ou como uma especialidade com o objetivo de colaborar no tratamento de certas doenças resistentes ao tratamento medicamentoso tradicional. Neste caso a psicossomática seria aplicada dependendo do tipo de doença que se apresentasse.
Outra forma de encarar a psicossomática é considerando que o ser humano é composto de corpo e psiquismo, que atuam em conjunto e adoecem também em conjunto. Desta maneira a psicossomática passa a ser uma forma especial de enfocar as demandas de tratamento, que leva em consideração a influência que a subjetividade faz no corpo e vice-versa. Isto significa que independente da queixa do paciente, a tensão pode se manifestar no psiquismo como, por exemplo uma fobia ou no corpo através de uma manifestação alérgica ou uma gastrite.
O objetivo da psicoterapia psicossomática seria então, uma escuta preparada para acolher e acompanhar o paciente, tanto na elaboração de conflitos psíquicos pela terapia psicanalítica, quanto criar um ambiente propício para o desenvolvimento de recursos psíquicos, de forma que o paciente possa dar vazão àquilo que no momento somente o corpo está em condições de servir de suporte.
Normalmente esta problemática mais regressiva ocorre diante das vicissitudes precoces da vida do paciente, que distorceram a capacidade do sistema psíquico se articular diante dos conflitos e dificuldades devido a problemas nos cuidados maternos, por privações, traumas e violência ocorridos num momento de formação da individualidade, da identidade, da auto-estima, e da capacidade de reação à agressão.
Esta articulação entre corpo e psiquismo pode ser compreendida de várias formas e neste blog apresentaremos, a teoria da escola francesa de psicossomática com base psicanalítica e acrescentaremos uma abordagem psicossomática que é nossa linha de pesquisa focada na distorção da percepção do trauma.

(Prado, A.F - A Alienação Perceptiva : O Assédio Moral Infantil e sua relação com os processos de somatização, Cap 5 - Monografia Especialização em Psicossomática Sedes Sapientiae)

Um comentário:

  1. Parabéns pelo blog! Sou estudante de psicologia, e achei muito interessante esse post sobre abordagem psicossomática.

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